- Artigo publicado originalmente na StartSe
Pelo terceiro trimestre seguido os investimentos de Capital de Risco cresceram no Brasil. O crescimento frequente do setor no país vem sendo destaque mundial e atraindo a atenção de cada vez mais investidores. Uma das motivações por trás do crescimento é a queda – e agora, estabilização – da taxa básica de juros.
Com as definições e frequentes sinalizações do COPOM (órgão que define a alíquota da taxa), de que a taxa não deve subir, investidores estão buscando ativos com maior risco, que proporcionam maior possibilidade de rentabilidade.
A grande maioria desses investimentos de risco continuam concentrados em fintechs. O setor continua demonstrando crescente apoio por parte dos investidores. O Banco C6 é um dos exemplos de fintech que aproveita o boom do setor: a startup anunciou aporte de R$ 1,3 bilhão de um grupo de cerca de 40 investidores, em uma rodada liderada pelo Credit Suisse. Após o investimento, a fintech é avaliada em R$ 11,3 bilhões, sendo considerada um novo unicórnio brasileiro – como são chamadas as startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão.
Os planos futuros do banco incluem a busca por novos clientes, ampliar sua plataforma de investimentos e buscar novas linhas de negócios. E, em 2021, fazer uma oferta inicial de ações (IPO) na bolsa de valores.
O setor bancário ainda teve mais um catalisador no trimestre com o início das operações por PIX, novo sistema digital de pagamentos instantâneos. O sistema deve acelerar ainda mais os investimentos de risco em fintechs nos próximos trimestres fiscais, criando oportunidades de crescimento impulsionadas pela facilidade de movimentação de valores através da tecnologia.
Além das fintechs, outras categorias que estão e devem continuar em foco são as startups de delivery e logística – impulsionadas pelos efeitos de lockdowns e regras de distanciamento social definidas pelo governo. As startups focadas na digitalização de negócios também sentem os efeitos positivos do maior desejo do consumidor em consumir à distância.
A tendência deve perdurar além da pandemia, com consumidores que antes eram resistentes aos modelos de consumo digital sendo apresentados ao e-commerce e modelos de aprendizagem à distância. Aqueles que tiverem boas experiências, terão incentivos suficientes para manter pelo menos parte dos hábitos de consumo desenvolvidos durante a quarentena.
O que se pode observar no setor de e-commerce é que as empresas estão fazendo o possível para satisfazer o consumidor, com uma corrida para garantir que as entregas sejam cada vez mais ágeis. Amazon, B2W (Americanas, Shoptime e Submarino) e Mercado Livre se destacam no setor, construindo novos centros de distribuição, aumentando suas redes logísticas e diversificando os meios de transporte de mercadorias.
O setor de delivery é outro que teve crescimento meteórico impulsionado pelos novos hábitos de consumo da população. Mundialmente, a utilização dos cinco principais aplicativos para pedir comida em cada país mais que dobrou, com uma média de 115% de crescimento.
No Brasil, a ABRASEL (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) estimava faturamento de R$ 18 bilhões no mercado de delivery em 2020, um aumento de 20% quando comparado ao ano anterior. A Food Consulting, no entanto, estima que esse crescimento, comparado a 2019, tenha sido de por volta de 250%.
A Rappi, startup colombiana – pioneira na entrega de supermercados e farmácias, além dos restaurantes no país – alega que a demanda triplicou em relação ao período pré-pandemia.
O iFood, principal aplicativo de delivery do país, observando os movimentos do mercado no período, ampliou sua operação para outra categoria: supermercados. A rapidez, característica das startups, em se adaptar a novos comportamentos e cenários foi essencial para que o iFood ajustasse seus produtos e aumentasse o investimento nas áreas corretas.
O crescimento acelerado do setor de delivery fez com que M&As (Aquisições e Fusões) feitos em anos anteriores envolvendo startups da área se tornassem grandes sucessos. O Pão de Açúcar, que comprou o aplicativo de entregas James Delivery em 2018 e a Locaweb, que comprou o serviço Delivery Direto em 2019, relatam o sucesso de suas apostas no setor: a James Delivery relatou aumento de 962% no número de pedidos no segundo trimestre de 2020, quando comparado ao mesmo período do ano anterior; e a Delivery Direto relata que o volume movimentado por meio do serviço apenas entre fevereiro e abril, cresceu 400%.
A expectativa do setor é que as taxas de crescimento se mantenham maiores do que a vista antes da pandemia, ainda que haja alguma desaceleração quando os clientes voltarem a frequentar bares, restaurantes e supermercados normalmente.
O que se observa, no geral, são os reflexos de uma vida mais digital. Crescentemente, a sociedade vem se adaptando aos novos tempos, que provavelmente ocorreriam inevitavelmente mais tarde, mas ganharam força durante o ano de 2020. Fintechs, empresas de logística, delivery e e-commerce devem manter o ritmo de crescimento no próximo trimestre e, como vêm demonstrando, estão fazendo o possível para agradar os novos adeptos da digitalização, fidelizando-os para além da pandemia e atraindo os olhos – e capital – de cada vez mais investidores.