A PROVA DE FOGO DO CAPITAL DE RISCO

A PROVA DE FOGO DO CAPITAL DE RISCO

2020 não foi um ano fácil para ninguém. Com a pandemia, muitos negócios foram impactados e os investimentos tiveram alguns tropeços no início do ano. Apesar dos ventos não favoráveis gerados pela pandemia e incertezas econômicas, o Capital de Risco (Venture Capital) investido foi 4% maior do que no ano anterior.

A resiliência do mercado de VC não ocorreu sem adaptações, assim como em quase todas as áreas, houveram movimentos em novas direções e áreas que foram privilegiadas, como o setor de infraestrutura tecnológica e serviços na nuvem - estes foram essenciais para permitir que o trabalho, educação, finanças, saúde, compras e entretenimento fossem possíveis digitalmente.

Globalmente, o boom da tecnologia nos mercados foi liderado pela Apple, que atingiu um valuation de mais de US$ 2 trilhões em agosto pela primeira vez e pela Amazon e Google aproximando-se de US$ 1 trilhão. Em companhias de capital fechado, como a maioria das startups, o aumento pode ser percebido no investimento de risco: o Private Equity (participação privada) em companhias com investimento de risco, cresceu em 73% comparado a 2019.

No Brasil, também não faltou capital para as startups, que receberam aportes que somados totalizaram R$ 18,1 bilhões de reais, o valor mais alto já captado pelo setor, tornando 2020 um ano histórico. Contra as expectativas, o setor demonstrou resiliência e consolidou o mercado de venture capital no Brasil. 

Com o tempo, os investidores ficaram confortáveis e voltaram a investir em peso, inclusive migrando seus investimentos do mercado tradicional devido às condições macroeconômicas do país, em busca de ativos com maior risco e potencial de retorno.

O aumento de 17% no volume de investimentos no ano de 2020, quando comparado com 2019, foi impulsionado pela necessidade da aceleração da digitalização da economia, área dominada pelas startups. Apesar de investimentos em rodadas Series C terem liderado o volume de recursos (US$ 800 milhões), o crescimento dos investimentos em rodadas de estágio anjo, pre-seed e seed demonstrou forte crescimento, somando US$ 172 milhões investidos.

As plataformas de investimento coletivo em startups também demonstraram crescimento. Na CapTable, empresa de funding de startups da StartSe que oferece uma plataforma para investimentos, foram captados quase R$ 11 milhões para 11 startups em 2020.

As plataformas de investimento começaram como uma oportunidade de democratizar esse tipo de investimento, antes visto como inalcançável para uma parcela dos investidores. Porém, percebe-se um aumento da participação de grupos de anjos, investidores-anjo e fundos de corporate venture nas ofertas. Isso demonstra o amadurecimento da modalidade, o que deve trazer cada vez mais ofertas atrativas para todo tipo de investidor.

Em 2021 o setor deve começar a apresentar as influências dos IPOs de startups, como o Méliuz, no nível de interesse por parte dos investidores em startups. Além disso, uma iminente regulamentação para que as plataformas possam operar ofertas do mercado secundário (ou seja, a compra e venda de notas conversíveis de ofertas já encerradas em plataformas) deve aumentar a liquidez dos ativos e atrair ainda mais investidores.

Mesmo com a regulamentação do mercado secundário, as ofertas públicas das plataformas devem atrair o maior número de investidores, já que o preço ofertado nas ofertas públicas assemelham-se aos IPOs da Bolsa: são, provavelmente, o momento em que o preço do lote de ações das startups será mais baixo. Ainda, startups possuem maior probabilidade de multiplicar o valor investido em pouco tempo e aqueles que compraram na primeira oportunidade realizarão lucros com a venda dos lotes para quem decidir esperar para comprar no mercado secundário.

Por isso, a recomendação de montar um portfólio de startups ainda é válida: além de mitigar riscos ao dividir seus investimentos em diferentes startups, você possuirá um maior número de lotes de ações de startups com menor valor para poder realizar lucros no mercado secundário.