A indústria financeira é uma área que historicamente é dominada por homens, com mulheres representando menos de 10% das posições sênior da área. Embora houvesse a esperança de que a indústria das fintechs poderia equilibrar a divisão de gêneros desigual do setor financeiro tradicional, a liderança feminina nas fintechs continua baixa em boa parte do mundo.
Entretanto, a situação começa a dar sinais de mudança, pelo menos na América Latina. Na região, as mulheres estão avançando e já representam uma porcentagem cinco vezes maior do que a média global de fintechs fundadas por mulheres. A indústria latino-americana de fintechs está em franca expansão e as mulheres têm sido parte fundamental do sucesso na região. De acordo com o Crunchbase, em 2019, mais de 35% das startups da área de fintech da América Latina foram fundadas por mulheres.
A oportunidade de criar mudanças significativas foi o que atraiu a maioria dessas líderes mulheres de fintechs. Com 70% da população da região possuindo uma conta bancária e a maior presença de smartphones na sociedade, podendo chegar a 80% até 2025, há um enorme potencial de crescimento para a indústria. As soluções das fintechs podem representar uma substituição dos pagamentos em dinheiro e uma maior inclusão financeira, desses cidadãos que têm acesso a um smartphone, mas ainda não possuem contas bancárias.
Empresas da área estão reimaginando serviços e produtos de forma dinâmica e a região como um todo se beneficiará do maior alcance dos produtos financeiros para a população. A pandemia só fortaleceu o setor, que observou maior demanda por serviços financeiros digitais. Prova desse avanço é que o governo brasileiro deve colocar em prática, em novembro, novas regulações para a parte do sistema bancário conhecida pelo termo open banking.
Embora o Covid-19 tenha acelerado a adoção das fintechs, também acabou realçando os problemas que as empreendedoras enfrentam. A desigualdade de gênero é um problema ainda muito presente na América Latina e a pandemia causada pelo novo coronavírus provavelmente aumentou ainda mais a disparidade entre homens e mulheres.
Infelizmente, mulheres em posição de liderança frequentemente precisam lidar com situações em que são colocadas em dúvida, ignoradas e suas opiniões vistas com menor valor do que as de colegas homens. Existe um preconceito de que os homens são mais capazes de liderar uma startup na indústria da tecnologia, muitos pensam que, por serem mulheres, essas empreendedoras não possuem a habilidade de liderar e muitas precisam perder tempo valioso para derrubar essa barreira e serem reconhecidas como capazes de desempenhar suas funções.
Outra área em que as mulheres sofreram desproporcionalmente durante a pandemia foi a de investimentos. Segundo um estudo da 500 Startups, 40% das fundadoras mulheres dizem que não irão atingir suas metas de captação de recursos neste ano.
Apesar da força de trabalho feminina ter aumentado sua participação na América Latina nos últimos 25 anos, a qualidade de vida dessas mulheres não mudou significativamente, já que elas também são responsáveis por cuidar de membros da família. Em média, as mulheres fazem três vezes mais trabalho doméstico não remunerado do que os homens.
Essas fundadoras mulheres que administram um negócio e ainda cuidam da família enfrentam sexismo absoluto. Ouvindo perguntas como: "Você não se sente culpada por não passar mais tempo com seus filhos ou seu marido?" Isso faz com que essas mulheres sejam desafiadas a provar seu valor como empresárias contínua e repetidamente.
Mas então, como podemos apoiar essas fundadoras? Em geral, as representantes desse segmento procuram umas às outras para apoio e conselhos. Em troca do apoio que recebem, elas desenvolvem um forte senso de responsabilidade de passar a oportunidade adiante.
Como mulheres líderes, muitas colocam como meta treinar e ajudar mais mulheres a se estabelecerem em posições de liderança em suas empresas. E não é só ilusório esse compromisso com suas colegas, segundo pesquisas, empresas com pelo menos uma fundadora mulher, contratam 2.5 vezes mais mulheres; aquelas com uma fundadora e pelo menos uma outra executiva em cargo de liderança, contratam 6 vezes mais mulheres. Artigos, eventos e redes de contato de mulheres da indústria, também unem as líderes para construir uma comunidade que apóia e cria oportunidades para outras mulheres.
Ainda assim, mudar a realidade da participação das mulheres na área da tecnologia requer intervenções durante a infância. Na América Latina, por exemplo, uma em cada quatro mulheres têm filhos antes dos 18 anos, o que acaba diminuindo sua participação no mercado de trabalho e aumentando suas responsabilidades em casa.
Mas, também há um lado positivo e que anima essas líderes mulheres. Segundo estudos, incluir empreendedoras mulheres igualitariamente poderia fazer a economia mundial crescer 5 trilhões de dólares, e as empresas com fundadoras mulheres geram 2.5x mais receita para cada dólar investido do que empresas lideradas por homens. Essas empresas também têm valor de ação maior e um retorno de investimento 35% maior.
Embora ainda haja muito trabalho a ser feito, as mulheres vêm ganhando espaço no setor. Em 2019, a América Latina foi a região com maior valor de investimento de risco em empresas lideradas por representantes do sexo feminino. Com a pandemia impulsionando a demanda por serviços de fintechs, 2020 pode ter ainda mais crescimento no setor.
Nunca houve tempo melhor para começar um negócio no setor de fintech, a esperança é de que haja um boom de novos negócios provocados pela situação econômica decorrente da pandemia e a porcentagem desses negócios que serão liderados por mulheres pode ser significativa.
Conteúdo traduzido e adaptado, acesse o original (em inglês): https://news.crunchbase.com/news/women-are-leading-latin-americas-fintech-revolution/