Nem só de aquisições bombásticas e unicórnios vive o mundo das startups. As aquisições low-profile com amplos e diferenciados objetivos são uma realidade alcançada por startups de diferentes ramos, mas a falta de pomposidade não torna essas aquisições menos interessantes para os empresários e investidores. Apesar de não se tornarem notícias em grandes veículos, tais aquisições possibilitam desdobramentos interessantes e variados. Mas quais são essas possibilidades?
Em geral, as empresas são adquiridas por sua tecnologia, para que esta seja absorvida por uma companhia maior e facilite sua entrada ou relevância em um setor. Esse foi o caso da aquisição de três startups pela Sapore no início deste ano. A empresa adquiriu a Lucco Fit, de marmitas congeladas; a Zatt, um supermercado autônomo; e a Shipp, de delivery. A aquisição das empresas foi justificada por aumentar sua capilaridade e nichos de mercado.
Também, pode ocorrer para melhorar um serviço já oferecido pela companhia, mas que foi feito de maneira melhor por uma startup. Infelizmente, algumas dessas aquisições têm como único objetivo eliminar um concorrente que está ameaçando a posição de dominância de uma companhia. Um tipo mais nobre de aquisição é o acquihire (aquisição com o objetivo de contratar), o qual será meu foco devido ao seu potencial para investidores e pouca exposição midiática.
A forma mais conhecida deste tipo de aquisição é o chamado acquihire, em que a empresa é adquirida não necessariamente por sua ideia ou produto, mas com o objetivo de integrar seu time de colaboradores à empresa que adquiriu. Neste caso, o talento da equipe da startup é tido como valioso para desenvolver um produto novo ou adaptar seu produto existente aos moldes da nova empresa. Além disso, a compradora espera que os profissionais possam contribuir em outras áreas da companhia.
Esse cenário não é somente comum em startups, ocorrendo também nas grandes corporações. Em 2014, a gigante da tecnologia Apple comprou a Beats por 3 bilhões de dólares. O objetivo que não era claro no início, já que a Apple já possuía acessórios de áudio no momento da aquisição, ficou claro com o tempo. O objetivo da gigante era criar seu serviço de streaming para competir com nomes já reconhecidos da área, como o Spotify. O time da Beats tinha valor superior aos seus produtos, o que a Apple almejava com a aquisição eram os profissionais com contato próximo às gravadoras, que conseguiriam fechar contratos com as grandes distribuidoras musicais.
Mas esse fenômeno não ocorre somente com grandes empresas, sendo replicado no mundo das startups também. A ServiceNow, por exemplo, adquiriu a propriedade intelectual e membros chave do time da Appsee, empresa de análise de comportamento de usuários de apps móveis. É importante ressaltar que a ServiceNow não adquiriu os consumidores da Appsee, que deve encerrar suas operações nos próximos meses, demonstrando o interesse pela propriedade intelectual e talento da empresa, ao invés de manter a marca e continuar oferecendo o serviço a terceiros.
Outro exemplo foi a aquisição da VezaMart, uma plataforma que possui soluções de administração para produtores rurais, pela DeHaat. Depois da aquisição o time da VezaMart vai ser integrado a empresa e continuará desenvolvendo soluções para produtores rurais. Outras empresas desse segmento, como a Pomartec, estão se destacando no Brasil, oferecendo soluções de gestão para a fruticultura, com alto potencial de escalabilidade.
No Brasil, a Gympass adquiriu no final do ano passado a startup portuguesa Flaner, que possui soluções de inteligência artificial e machine learning. O CEO da Gympass, Leandro Caldeira afirmou que além da tecnologia da empresa ter chamado a atenção, a dificuldade em encontrar talentos na área em que a empresa opera motivou a aquisição da empresa. Tornando-se mais fácil adquirir uma empresa com um time sênior formado do que buscar novos profissionais individualmente.
Para o investidor, o fato de haver outros caminhos para a aquisição de uma startup é interessante. Já que isso aumenta as possibilidades de uma empresa ser adquirida, além da tradicional via da aquisição em que a marca é mantida e impulsionada por uma maior. Além disso, o investidor não fica dependente da empresa tornar-se um unicórnio para obter ganhos exponenciais com seu investimento.
O número de aquisições motivadas por essas outras razões elencadas, certamente supera os números de aquisições tradicionais. De qualquer maneira, o investidor vai continuar tendo rentabilidade, tanto a empresa sendo vendida mantendo sua marca, quanto a empresa sendo vendida em razão de seu time de profissionais ou sua tecnologia.
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