- Publicado originalmente na StartSe.
O Nubank anunciou o recebimento de aporte de US$ 750 milhões, destes, US$ 500 milhões foram investidos pela Berkshire Hathaway, empresa de Warren Buffett. Mas, o que significam esses movimentos no mercado de brasileiro de startups? Warren Buffett é o selo de aprovação que irá impulsionar ainda mais os investimentos em fintechs brasileiras? Entenda.
A Berkshire Hathaway - empresa de investimento de Warren Buffett - tem longo histórico de sucesso em investimentos. Porém, a maioria da carteira de investimentos é concentrada em empresas tradicionais gigantes. Nela, é possível encontrar nomes como Apple, Kraft/Heinz, General Motors e Verizon.
Outro segmento com bastante relevância na carteira são as empresas da área financeira - em sua maioria bancos americanos - como Bank of America, Bancorp, Well's Fargo, JP Morgan, Visa, Mastercard, American Express, entre outros. No início da pandemia, em 2020, Buffett decidiu vender a maioria das ações de bancos tradicionais.
Embora o movimento pareça ter sido incorreto - a maioria das ações das instituições financeiras dos EUA voltou ao patamar pré-pandemia - há grande significado no que esses movimentos indicam. Em uma tentativa de diminuir a exposição da Berkshire Hathaway à volatilidade das ações de bancos em meio a uma pandemia, Buffett até mesmo vendeu suas ações do banco Well's Fargo, um dos representantes mais antigos e significativos de seu portfólio.
Parece, no entanto, que a Berkshire Hathaway está aproveitando sua saída precipitada do setor bancário tradicional - com exceção das ações do Bank of America - para embarcar em um setor com alto potencial de crescimento: as fintechs. Faz sentido, há mais probabilidade de multiplicação de capital em companhias menores do que em bancos tradicionais estabelecidos.
A Berkshire Hathaway está lidando com um "problema" pouco usual: a companhia tem muito dinheiro em caixa e, segundo o próprio Warren Buffett, dinheiro "parado" não é um bom investimento. Na busca dos próximos setores com potencial de crescimento a Berkshire Hathaway começou um tímido - quando comparado ao volume de investimentos totais da empresa - movimento de investimento em fintechs.
Engana-se quem pensa que o primeiro investimento em startup do fundo foi o Nubank. Em 2018 Buffett comprou participação na fintech indiana de pagamentos Paytm - o valor de mercado da companhia era de US$ 10 bilhões na época que a Berkshire comprou participação - agora, a mesma Paytm se prepara para seu IPO, com valor de mercado de US$ 30 bilhões - o que significa que o capital aplicado por Buffett multiplicou 3x desde o aporte.
Esse também não é o primeiro aporte de Buffett em uma empresa brasileira, o magnata americano investiu no IPO da Stone Co. - fintech brasileira de pagamentos - na Nasdaq em 2018. Buffett detinha 11,3% da empresa à época, equivalente a US$ 340 milhões. Em 2021, quando a Berskshire Hathaway reduziu sua participação no segmento financeiro, o fundo decidiu reduzir sua participação - agora de 3,4% - na Stone. Ainda assim, os 3,4% hoje valem US$ 682,7 milhões: mais que o dobro do valor investido em 2018.
A estratégia de investir no mesmo setor - o financeiro, em que a Berkshire já é especialista no mercado de ações - quando busca startups para investir, é chamada de hedge de investimento. Ao investir em bancos tradicionais e em fintechs - as startups do setor financeiro - o risco é diluído. Ou seja, mesmo que os bancos percam valor, o investidor garante que aquelas que possivelmente tomarão seu mercado, as fintechs, estão presentes em sua carteira.
A aposta da Berskshire parece ir ainda além: com menos investimentos no setor financeiro tradicional e aumento de participação em fintechs no mundo, o que indica que o fundo acredita mais no potencial de crescimento delas do que dos bancos tradicionais.
Mas por que Buffett não investiu em fintechs dos EUA, como a Stripe? A resposta parece ter a ver com o potencial de digitalização bancária de regiões desbancarizadas, como a América Latina e a Índia - as possibilidades de crescimento rápido de fintechs nessas regiões são maiores.
Em relatório recente do Crunchbase é possível ver que as fintechs LatAM estão atraindo cada vez mais capital - US$ 2 bilhões foram investidos no setor em 2021, número igual ao ano de 2020 inteiro. Com a extensão da rodada do Nubank - US$ 750 milhões - o número já ultrapassa o ano anterior: US$ 2,75 bilhões.
Os números expressivos são reflexo da confiança dos investidores e fundos - nacionais e internacionais - no potencial de crescimento das fintechs da região. Segundo Ben Savage, um gestor de fundo americano, não há dúvidas que o que levou 5 ou 6 anos para acontecer com as fintechs americanas pode acontecer em apenas 18 meses nas fintechs da América Latina.
A alta desbancarização da região aliada à alta digitalização é a receita perfeita para uma fintech crescer. O Brasil se destaca na digitalização do sistema financeiro com serviços como o PIX e a implantação do Open Banking.
Os investimentos recentes de Buffett em startups chamam a atenção, já que a Berkshire Hathaway tradicionalmente investe em grandes corporações, como Coca-Cola, Bank of America, Apple e American Airlines. Os movimentos indicam que até mesmo Buffett, com seu estilo tradicional de investir, está percebendo a necessidade de aportar em startups, especialmente as fintechs.
Observar o crescimento das fintechs Latino Americanas e, principalmente, brasileiras é necessário. Com cada vez mais atenção de fundos e investidores - até mesmo internacionais - fica claro que possuir startups em seu portfólio faz sentido, mesmo que seja numa estratégia de proteção dos investimentos na Bolsa de Valores, como ações de grandes bancos tradicionais brasileiros.
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